Vivenciei a pandemia em um apartamento da Cohab Adventista no Capão Redondo. Moro junto aos meus pais e ambos não puderam seguir o isolamento por conta do trabalho. Eu estava somente estudando durante o período e tive acesso à internet e dispositivos móveis para dar continuidade ao ensino remoto. Entretanto, meu privilégio foi extremamente específico e restrito em comparação aos moradores do entorno e amigos que estudavam comigo. A maioria não pode permanecer em casa e muitos sofreram com a falta de auxílio e políticas suficientes para isolar-se sem deixar de lado os requisitos básicos e necessários para o dia a dia, como alimento e água.

Além disso, observando por experiência pessoal e também de pessoas do meu ciclo, estudantes abandonaram as aulas gradativamente com o passar dos meses e o desinteresse tomou conta quase por completo. As ruas próximas não eram tão vazias como as do centro de São Paulo, afinal, as pessoas precisavam trabalhar por uma questão de sobrevivência, ainda que estivessem expostas à morte de todo modo. Os postos e hospitais ao redor estavam sempre com alto número de pacientes e minha saúde mental foi extremamente abalada com crises de ansiedade e sintomas de depressão.

A ajuda do Estado foi mínima com o auxílio emergencial. Chegou em famílias próximas, mas não foi suficiente. Também não notei a presença da mídia, a qual deveria ter utilizado seus veículos para retratarem e alertarem o modo e as condições de vida que o coletivo se encontrava. Os apoios mais efetivos partiram de pessoas do próprio bairro através de grupos sociais, ONG’S ou de forma individual e espontânea. As dificuldades enfrentadas poderiam ter sido em menor escala se o governo tivesse se posicionado e atuado diretamente no combate ao Corona Vírus, como na distribuição de um auxílio com maior valor, compra imediata de vacinas a partir de sua liberação, apoio e incentivo da vacinação e do uso de máscaras, políticas públicas geradas para o cuidado mental, etc.