Vivenciei boa parte da pandemia em uma região periférica da zona sul de São Paulo. Apesar da rede de solidariedade construída pelos moradores individualmente ou coletivamente (a partir de associações e igrejas de bairro, principalmente) a pandemia não foi um período fácil do ponto de vista coletivo. Alguns dos meus vizinhos perderam o emprego, outros eram “autônomos” (ubers, vendedores) e não conseguiram trabalhar com a diminuição da circulação de pessoas. Mas ainda assim, a pandemia não parou as periferias como parou outras regiões. As pessoas continuaram circulando, seja por conta do trabalho, abrindo seus estabelecimentos, em busca em de bicos e de condições básicas de sobrevivência, seja em busca de lazer, como as crianças, adolescentes e jovens que na falta de outras alternativas de entretenimento dentro de casa, continuaram se reunindo nas ruas. Senti que as pessoas mais velhas se preocupavam mais com a pandemia, principalmente quando conhecidos, amigos ou familiares morreram em decorrência da covid. Na minha opinião, quatro ações estatais teriam mitigado consideravelmente as dificuldades da pandemia: 1. a conscientização da população sobre os riscos do coronavírus, o número de mortes e as estratégias de prevenção; 2. acesso à testagem, especialmente nas periferias; 3. um auxílio emergencial no valor de um salário mínimo, ao menos para os trabalhadores informais e autônomos; 4. melhor acompanhamento dos alunos da rede de ensino básico e fundamental, principalmente com auxílios para que eles tivessem condições de acessar as aulas e atividades (auxílio internet, auxílio merenda etc).