Testemunho: Victoria Braga
Vivenciei boa parte da pandemia em uma região periférica da zona sul de São Paulo. Apesar da rede de solidariedade construída pelos moradores individualmente ou coletivamente (a partir de associações e igrejas de bairro, principalmente) a pandemia não foi um período fácil do ponto de vista coletivo. Alguns dos meus vizinhos perderam o emprego, outros eram “autônomos” (ubers, vendedores) e não conseguiram trabalhar com a diminuição da circulação de pessoas. Mas ainda assim, a pandemia não parou as periferias como parou outras regiões. As pessoas continuaram circulando, seja por conta do trabalho, abrindo seus estabelecimentos, em busca em de bicos e de condições básicas de sobrevivência, seja em busca de lazer, como as crianças, adolescentes e jovens que na falta de outras alternativas de entretenimento dentro de casa, continuaram se reunindo nas ruas. Senti que as pessoas mais velhas se preocupavam mais com a pandemia, principalmente quando conhecidos, amigos ou familiares morreram em decorrência da covid. Na minha opinião, quatro ações estatais teriam mitigado consideravelmente as dificuldades da pandemia: 1. a conscientização da população sobre os riscos do coronavírus, o número de mortes e as estratégias de prevenção; 2. acesso à testagem, especialmente nas periferias; 3. um auxílio emergencial no valor de um salário mínimo, ao menos para os trabalhadores informais e autônomos; 4. melhor acompanhamento dos alunos da rede de ensino básico e fundamental, principalmente com auxílios para que eles tivessem condições de acessar as aulas e atividades (auxílio internet, auxílio merenda etc).