Sou o Ruan, estudante de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo. Durante a pandemia, passei por dois processos de transição. Por acaso, a minha saída da periferia, enquanto espaço físico, por vir morar em um local mais próximo ao centro da cidade e a minha entrada na universidade pública. Por acaso, essas duas transições inovaram a minha perspectiva de reconhecimento das realidades. Pois, quando restringimos a discussão ao tema da pandemia, há a percepção de diversos fatores.

Em primeiro lugar, a infraestrutura que é disponibilizada pelo Estado em cada região – consideremos a dicotomia entre bairros de classe média e periferias no sentido físico. Por acaso, as condições hospitalares e acessos são muito mais evidentes no primeiro do que no segundo e isso foi intensificado durante a pandemia. Além das condições voltadas à saúde, nós também categorizamos a ideia de quem ficaria em casa para se cuidar. Pois condições econômicas precedem essa possibilidade. Sendo que a transição dos coletivos e movimentos sociais nas periferias de espaços que disponibilizavam acesso cultural para os moradores para movimentos assistencialistas que possibilitavam a sobrevivência desses últimos foi essencial. Sendo que o Estado disponibilizou alternativas insuficientes para que, mesmos aqueles que não tinham trabalhos formais, diminuíssem o efeito pendular nas cidades que geram ainda mais hiperlotação do transporte público. Ajudando assim, a disseminar o Covid.

Porém, quando consideramos, em segundo lugar, a mídia e a disseminação de notícias diárias por ela sobre os métodos de cuidado contra a Covid, esse entra como aspecto positivo. Porque as periferias possuem acesso limitado ao sistema de saúde, então universalizar medidas cientificas de proteção contra o vírus é algo positivo. Porém, em terceiro lugar, o modo que as informações, quando não sobre cuidados médicos pela mídia e não pelo governo “acientífico”, chegavam a população eram pouco palpáveis para pessoas com menos conhecimento. Digo isso, porque as pessoas mais velhas que me circundam possuem pouco desenvolvimento educacional, quando não são analfabetas. Por acaso, isso é problemático, pois em nenhum momento, por exemplo, foi considerado discutir a maneira correta de disseminação das vacinas. Apenas divulgaram que a classe por idade seria o correto, ou melhor “pseudo-coerente”. Porém, ela não reflete a real necessidade. Porque disseminar a vacinar por faixa de idade, em que iniciamos do mais velho para o jovem, é incoerente, pois as pessoas mais velhas, no geral e por conta da expectativa de vida desse locais, encontram-se nos melhores bairros da cidade, os quais tem maior qualidade de vida e que são os mesmos que possuem moradores que podem considerar ficar em casa durante a pandemia. Ao passo que as periferias possuem menor qualidade de vida, menos acesso aos meios de saúde e as pessoas possuem menor expectativa de vida. Ou seja, até mesmo escolhas de gerenciamento de políticas públicas elitizam a vida das pessoas.