Pra mim e pros meus, a pandemia escancarou as desigualdades sociais que ditam as possibilidades e limites do nosso modo de vida. Meu pai nunca parou de trabalhar, minha mãe muito menos. O mesmo para todas as pessoas que conheço, aquelas que tiveram sorte. Pois as outras foram demitidas. As minhas atividades – estágio e aulas na faculdade – foram paralisadas e eu fiquei em casa vivendo quase como entre dois mundos paralelos. Enquanto muitos pararam, outros foram e ficaram parados por imposição, e outros ainda não tiveram nenhuma possibilidade de parar. A vida seguiu em meio a mortes, casos e vulnerabilização das condições de vida já fragilizadas pelo sistema. Muitos amigos adoeceram, sofreram, e não encontraram o suporte adequado nos serviços ofertados em comunidade. Os vínculos ficaram sustentados muito pela mediação virtual, com todos os limites aí presentes. Foi um período muito difícil e doloroso pra mim pessoalmente e para os grupos que faço parte. Os movimentos sociais e comunitários foram muito penalizados com o logo período de afastamento e paralisação das atividades coletivas. Somente com o avanço da vacinação as coisas começaram a retomar. E agora com a derrota do bolsonarismo nas urnas, consigo realmente olhar pra frente com esperança!