A pandemia causada pelo Covid-19, trouxe a tona situações vivenciadas a muito tempo pela população que mora nos grandes centros urbanos a margem da sociedade, pobres, pretas(os), indígenas, pessoas idosas, pessoas em estado de extrema pobreza e vulnerabilidade social, com pouco ou nenhuma fonte de renda ou emprego formal, sobrevivendo do trabalho oriundo da reciclagem, afazeres domésticos, com pouco retorno financeiro. Estamos falando de um número expressivo da população brasileira, que com a pandemia foi acometido pela insuficiência alimentar, o agravo da saúde mental e a dificuldades de acessar os serviços de saúde. Falamos de crianças e adolescentes que apresentaram durante esse período dificuldades em manter o foco nos estudos visto que o ensino se deu de maneira remota, ocasionando muita desigualdade, uma vez que grande parte das famílias não possuíam condições de aquisição de equipamentos como celulares e computadores, tampouco internet para que pudesse minimamente ser realizado o acompanhamento das disciplinas; e os equipamentos, quando doados não davam conta da necessidade e para além disso, apresentavam dificuldades dos pais conseguirem dar o suporte nas atividades, pela falta de conhecimento e aptidão no uso dos recursos tecnológicos em função da baixa escolaridade e por ter que sair em busca do alimento para sanar a fome. Outra situação identificada na comunidade de atuação, é a fragilidade na segurança pública, antes, durante e pós pandemia, ouvimos relatos de preocupação, medo de assalto e até mesmo de sair na rua, já que a cidade estava praticamente vazia durante o primeiro ano de pandemia.

Sobre as pautas na tentativa de reduzir esses impactos causados, investimos na divulgação das datas das pré-conferências, verbalizando ser esse um espaço potente de discussão, deliberação e controle social, onde a população tem direito de fala e também de escuta, no entanto é um espaço pouco acessado pela população, talvez por desconhecer a importância e a potencia desses espaços. Quanto as equipes técnicas atuando nas diferentes politicas e espaços sócio ocupacionais, estamos vivenciando momentos difíceis, durante e pós pandemia, com poucos recursos humanos e financeiros, trabalhadores com esgotamento físico e mental, alguns perderam emprego, outros foram a óbito, presenciaram o falecimento de familiares, e pouco foi feito. Não podemos esquecer que estamos falando de vidas que não são somente as nossas, vida de pessoas que por muitos dias não tem o que comer, sofrem preconceitos por morarem em comunidades periféricas, enfrentam dificuldades para se deslocarem, se inserirem no mercado de trabalho e ainda assim, não desistem de viver.

Acredito que a estratégia de investimento pós pandemia, é investir na educação pública com qualidade, para que as pessoas tenham oportunidades de se inserir no mercado de trabalho formal, ofertar cursos profissionalizante nas OSCs localizadas nas comunidades, com olhar voltado para as/os adolescentes que estão evadindo das escolas, na busca por trabalho, aumentar o número de vagas nas escolas de educação infantil. E algo que é essencial, construir e pensar com a comunidade, não, para a comunidade. Pensar coletivamente, escutando que vive no território, conhece e sabe as necessidades, o que realmente precisa para reduzir e/ou superar as sequelas deixadas pela PANDEMIA COVID-19.