Este testemunho seguiu o roteiro de perguntas utilizado na primeira fase do projeto:

  1. Quais as principais dificuldades vivenciadas por você e sua comunidade desde o início da pandemia?  

Dificuldade no transporte, o aumento do preço dos alimentos, o desemprego, confusões e filas enormes em bancos e postos de saúde.

  1. Qual tem sido o impacto da pandemia em sua segurança pessoal e na de sua comunidade desde o início de 2020?

Eu particularmente me sinto desprotegido em boa parte do tempo. Até vemos as viaturas da polícia passar, mas o simples fato de ficar sentado na porta de casa conversando com os vizinhos já se tornou um perigo, pois a cada momento que uma moto ou carro passa pela minha rua ficamos todos muito preocupados. O pouco transporte público que temos acesso também fica perigoso, pois as palavras de ânimo ficam desertas e para sairmos e cumprir os horários temos que sair de casa bem mais cedo tornando bem mais perigoso estar nesses ponto de ônibus e metrô.

  1. Você poderia falar um pouco sobre sua sensação de bem-estar desde o início da pandemia (saúde física e emocional, segurança alimentar, segurança ambiental, relação familiar, acesso à ao sistema de saúde, etc.)?

Na verdade é um compilado de sentimentos: sentimento de insegurança, pânico, conflito de informações… É um verdadeiro Pânico que está até dentro da própria casa. Quanto terá acesso à saúde muitas pessoas têm se automedicado em casa para evitar ir direto para as upas ou postos de saúde. Eu particularmente precisei ir diversas vezes em UPA e posto de saúde, tive em geral um bom atendimento em ambas porém a demora, a demanda, a quantidade de pessoas que por sentir um sintoma mais leve já se dirigem aos hospitais, meio que atrapalhando o acesso daqueles que realmente estão mais graves e no geral não vemos a confiança nas informações que nos são dadas com relação ao atendimento dentro dos hospitais roupas e postos de saúde.

  1. Quais medidas têm sido tomadas em termos comunitários a fim de lidar com estes problemas e qual a eficácia destas medidas?

Temos visto entre a liderança comunitária sempre um cuidado e estratégias novas a cada dia para tentar de alguma forma dar um atendimento mais humano. Nós vemos que os profissionais de saúde tem tido um cuidado maior, porém o pânico que nos foi dado pelo pelos conflitos de informações na televisão, no rádio e, principalmente, na internet nos faz desacreditar em muitos momentos e aí só a confiança no trabalho que foi exercido no passado nos faz confiar nesses profissionais nos dias atuais.

  1. E que medidas governamentais (municipais, estaduais, federais) têm sido tomadas para atender as necessidades da sua comunidade durante a pandemia? Qual o impacto destas medidas?

O que nós vimos na prática é a divisão de atendimento entre as unidades básicas de saúde, deixando entre bairros uma quantidade de UBS direcionadas para o atendimento das pessoas com sintomas gripais e o atendimento para as pessoas que foram positivo para o teste do vírus e essa divisão entre as UBS nos ajudou um pouco mais nos direcionar corretamente.

  1. Em algum momento sua comunidade/organização precisou acionar os poderes judiciário ou legislativo para fazer valer os direitos dos cidadãos que ali habitam?

Sim. Como vivemos num momento em que muitas pessoas passam necessidades dentro das suas casas, aqueles que fazem tratamento como hanseníase e tuberculose, que teriam direito a uma cesta básica devido ao tratamento que fazem, essa medida não foi respeitada nem cumprida na sua totalidade. Então, foi necessário recorrer à justiça para que uma investigação fosse aberta e apurada corretamente.

  1. Você acha que a situação da sua comunidade durante a pandemia tem sido adequadamente divulgada e representada na mídia?

Na verdade não. Continuando na mídia vemos uma divulgação verdadeira e ao mesmo tempo exagerada dos fatos, onde muitos dos momentos em que vivemos não foram devidamente registrados na sua totalidade, dando a parecer mais negativo de uma realidade que poderia, sim, estar um pouco mais positiva, mesmo diante do momento atual.

  1. E nas pautas de políticas públicas?

Bem, as políticas públicas se tornaram cada vez mais incompletas, onde muito do que foi tentado ser implementado nos pareceu mais como testes, onde a nossa necessidade não batia com a realidade vivida nos centros de Saúde. Vimos muito ser falado nas mídias planos de organização para o atual momento, onde muitos deles não foram efetivados e muitas propostas ao mesmo tempo nos deixaram confuso nas informações e a atitude de muitos profissionais de saúde na aplicação da própria vacina serem desviadas e a população com a necessidade de filmar para comprovar a aplicação da vacina. Muito cuidado é justamente o registro da aplicação dessas vacinas, onde o espaço que deveria ser distanciado pelo contato de ser ao público acabou sendo ultrapassado por aqueles que de uma certa forma acharam mais necessário a publicação da aplicação das vacinas do que da mesma.

  1. O que você acha que deveria ser feito para mitigar ou resolver as dificuldades enfrentadas na pandemia?

Na coleta de lixo, por exemplo, aqui no meu bairro diversas vezes os dias que eram necessários e que nós estávamos acostumados a passar a coleta de lixo, começou a ser mais falha. Vimos as praças em estado de quase que floresta, os terrenos baldios as ruas escuras acabaram se tornando um ponto de lixo. O medo de ir ao hospital mesmo que com qualquer outra doença se não o vírus acabou nos impulsionando a nos automedicar em casa com medo maior de encarar o vírus e as suas consequências. Mas em contrapartida vemos os cuidados de uma quantidade enorme de profissionais de saúde ali mesmo que ultrapassando as suas horas de trabalho estavam ali sempre nos resguardando, nos cuidando, nos dando as orientações necessárias, não pela obrigação das funções e nem da profissão, mas da importância do acolhimento no atendimento humanizado. Assim como os números reais atestados positivo e de óbitos onde não nos deixasse aterrorizados por um vírus que poderia ser sim evitado com o mínimo de cuidado, como higiene das mãos uso de álcool em gel, máscaras e a importância do distanciamento social, colocados como importantes para os cuidados contra o vírus e não como uma atitude mecânica, pois é uma atitude simples como fazer as compras no supermercado acabou se tornando um local de Pânico entre as pessoas. O uso indiscriminado de produtos químicos de limpeza em casa onde a maioria dele não eram 100% eficazes contra o vírus. Então, afinal de contas, a falta de informação ou a circulação das informações falsas nos prejudicaram bastante durante a pandemia e também a punição referente a aqueles que não se fizeram cumprir as medidas de isolamento social e os cuidados tanto para si como para os outros no momento da circulação na cidade.