É fato que a pandemia escancarou as desigualdades sociais que ditam as possibilidades e limites do nosso modo de vida no capitalismo. Enquanto muitos pararam de trabalhar e puderam fazer homeoffice, outros ficaram parados por imposição, e outros ainda não tiveram nenhuma possibilidade de parar. No meu caso, logo que a quarentena foi decretada, eu iniciei o homeoffice. No caso da minha mãe, ela continuou indo trabalhar presencialmente por algumas semanas, até que o medo de seus patrões de serem contaminados fez com que ela fosse dispensada. Sendo ela uma trabalhadora doméstica diarista sem carteira assinada, sua demissão veio sem qualquer salário desemprego. Na época, o principal salário da minha casa (eu, minha mãe e minha vó) vinha justamente da minha mãe, pois minha vó apenas ganha um auxílio do idoso e eu ainda era estagiaria. Por sorte, fui efetivada logo que a pandemia começou e eu passei a ser a chefe da família. Não foram períodos fáceis, nem financeiramente nem psicologicamente. A pressão de gerir financeiramente uma casa, terminar a graduação, cuidar de minha mãe e avó idosa, ver todos os dias pessoas morrendo aos montes, manter um relacionamento amoroso quase que a distância morando na mesma cidade, me fizeram entrar em uma fase de máxima ansiedade e depressão. Foi se tornando cada vez mais difícil acordar pra trabalhar e estudar. Felizmente, durante toda a pandemia, contei com a ajuda de meu psicólogo. Acho que não teria aguentado sem ele. Enfim, não foi fácil seguir com a vida em meio a mortes, casos e vulnerabilização das condições de vida já fragilizadas pelo sistema. Foi um período muito difícil e doloroso pra mim e para os grupos que faço parte.