Me chamo Bianca, moradora do Caiçara, Capão redondo. Vivenciei a pandemia em casa em “isolamento”. Minha mãe é auxiliar de enfermagem e trabalha no hospital de referência em covid do nosso bairro, e meu pai saia pra trabalhar todo dia. Conto o relato do que presencie no meio da minha família, amigos e do meu bairro.

A maior dificuldade foi a falta de informação, mesmo com minha mãe tendo contato direto, era tudo muito novo e desconhecido no começo. A sensação era de insegurança, cada pessoa tinha uma ideia do que era a doença, uns levavam a sério e outros não, o isolamento não foi cumprido, e as medidas de segurança demoraram a serem “respeitadas”, foram vistas mais como uma obrigação/ exigência do que uma prevenção. “Medo e aflição, lidar com o desconhecido estando na linha de frente, vendo o que realmente acontecia, como a doença evoluía e as complicações, que eram diferentes, a cada pessoa, a cada dia. Medo, de ser você ou um familiar seu ali naquela cama, naquela situação.” Foram as palavras da minha mãe.

Por um tempo eu e minha irmã ficamos na casa da minha vó, pelo fato da minha mãe estar na linha de frente, mas minha irmã foi uma das pessoas que não levou a sério, então meus pais mandaram a gente voltar pra casa. O medo de contaminar os mais velhos foi o que prevaleceu, e o que foi levado mais a sério na maioria das famílias do nosso bairro. O sistema de saúde ficou sobrecarregado, o maior hospital da região virou referência da covid, e as upas e o pronto socorro tiveram que lidar com o restante, redirecionando os pacientes contaminados. Por isso as pessoas estavam evitando ir ao hospital, com medo de se contaminarem.

A imprensa não nos representou, as informações eram genéricas, não sabíamos no que acreditar. As informações mais concretas do que estava acontecendo na nossa região eram passadas por meio das agentes de saúde, enfermeiras e pelas pessoas que se contaminaram com a doença, e mesmo assim as informações não eram levadas a sério. Falo isso por experiência, minha mãe vivia alertando amigos e familiares da situação que estava vivendo no hospital, o número de pessoas doentes, e o número de mortos, que eram contados por cima, mas mesmo assim era contrariada.

Fechamento de escolas, lockdown, e outras medidas de “segurança” foram decididas de acordo com outras realidades, e fomos incluídos nelas como parte de um geral. Não pensaram nas consequências para a periferia, as pessoas precisavam trabalhar para ter comida em casa, mas a maioria trabalha no centro da cidade, que obedecia ao lockdown, as crianças iam a escola pela merenda, mas escolas foram fechadas. Não digo que não fizeram o certo com essas decisões, mas não foram tomadas pensando em como cada um seria afetado. Ter renda sem sair de casa não foi uma opção PARA A MAIORIA DAS PESSOAS (repetindo mais uma vez).