Texto 1

Vou falar mesmo Bora começar parando dessa mania besta de que mulher só fala gritando. Só depois de muito silêncio e lapada aprendemos que só podemos mudar algo nos expressando Não é que eu fale alto. É que vocês ainda não entenderam que eu também tenho direito de falar. E nem vem dizer que é mimimi ou vitimismo. Vocês não perceberam que de tanta coisa que guardamos estamos explodindo? Não é sobre quem fala mais alto. É sobre o que vocês nunca vão saber porque não nos deixam falar. Me enxergam quando minha roupa é curta. Quando tiro uma fota de biquíni. E você acha que tem o direito de me rotular PUTA. Preciso ser honesta… Morri a cada “fiu fiu” A cada “gostosa” que ouvi na rua. Sem contar o medo de na primeira esquina dar de cara com meus pesadelos. Ser mulher na periferia não é fácil, viver oprimida é um fato, relações abusivas é um temor da cultura machista que nos ataca. Nas redes sociais o romantismo impera em casa a realidade é outra e só quem sabe é ela. Dos gritos, tapas que às vezes terminam em vela, parece os caras da ” lei” quando invadem sem dor a favela. Triste realidade que ninguém pode negar resquícios de crueldade que só juntas podemos mudar. Violência física, verbal, isso me enoja, puro veneno em gotas a violência também é psicológica. Não é fácil ser mulher, mas sou guerreira sou nordestina, luto por justiça e igualdade pois liberdade é minha sina.

Texto 2

Esqueci do cigarro. Hoje de tarde, enquanto fumava um cigarro barato, que de fato vai acelerar meus problemas de respiração, me peguei pensando na vida, e pra ser sincera eu nem estava pensando na minha. Por alguns instantes me peguei observando tudo ao meu redor. Mesmo tendo um bucado de coisa pra fazer me senti uma desocupada prestando atenção no que acontecia no Conjunto Virgem dos Pobres III, no bairro Trapiche da Barra. Meninos brincando na rua, bêbados gritando com os cachorros, barulho do carro do ovo e as mulheres falando da vida do povo. Tinha também música alta, muita alegria, e acabei me perguntando “Será que eu parei no tempo, tá tudo normal e já acabou a pandemia?”. Os cemitérios cada vez mais lotados, na presidência um genocida fazendo o povo de palhaço, índios sendo massacrados… Quase chorei! Primeiro porque a realidade é triste, depois porque queimei meus dedos quando me peguei sonhando com dias normais e me esqueci do cigarro.